Os 15 dias que abalaram Lula

O dia 15 de setembro deu início a uma série de acontecimentos concatenados que terminaram por abalar a vitória no primeiro turno do presidente Lula. Para que se tenha idéia do tamanho do estrago que esses acontecimentos causaram no presidente, bastam duas comparações: em 19 de setembro, segundo o Datafolha, Lula tinha dez pontos de vantagem sobre a soma dos adversários. Ontem, segundo o mesmo Datafolha, há um empate. Em 19 de setembro, num hipotético segundo turno entre Lula e Alckmin, Lula venceria por 55% a 38%, uma vantagem de 17 pontos . Hoje, por uma diferença de apenas quatro pontos: 49% a 44%. A seguir, veja alguns dos acontecimentos desses 15 dias que abalaram a candidatura Lula.

. O dossiê Serra
Em 15 de setembro, dois petistas foram presos num hotel em São Paulo com R$ 1,7 milhão, em reais e dólares. Segundo informaram à Polícia federal, o dinheiro seria para comprar um dossiê com provas do envolvimento de José Serra na Máfia das Sanguessugas. A investigação sobre o nebuloso caso está em andamento.

. Freud Godoy
Logo após sua prisão, Gedimar - um dos petistas presos - declarou em seu depoimento que foi contratado por um tal "Froud" ou "Frod"... Imediatamente, Freud Godoy, que trabalha com Lula há anos, apresentou-se a PF espontaneamente, e deu sua versão dos fatos: conhecera Gedimar em eventos relativos à empresa de segurança de sua esposa, não sabia por que teve seu nome citado por ele, não tinha nada a ver com o caso. Foi feita uma acareação entre os dois. Freud confirmou seu depoimento anterior. Gedimar ficou calado. Mas o advogado de Gedimar reclamou que seu cliente fora hostilizado na PF no dia da prisão, e que o depoimento dele não seria exatamente aquele. Mas nada disso foi levado em conta. Boa parte da imprensa passou a ligar o escândalo do dossiê ao presidente Lula por isso.

. Gaspari informa que Lula ameaçou fechar Congresso
Em sua coluna do dia 17 de setembro, o jornalista Elio Gaspari informou que, num jantar com empresários, o presidente Lula teria dito: "Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". Nota da assessoria de imprensa do presidente negou a declaração. O empresário citado por Gaspari afirmou que não falava com o jornalista há muito tempo. Nenhum empresário presente confirmou a tal declaração.

. Os grampos no TSE
Em seguida vieram os grampos. O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello, denunciou à imprensa que foram descobertos grampos em seu telefone e nos de mais dois ministros. Disse, em tese, que se fosse uma ação do governo seria fato gravíssimo. A suspeição contra mais uma manobra da "central de inteligência" da campanha de Lula ficou no ar. No entanto, investigação da PF provou que não houve grampo algum, e a Fence, empresa responsável pela varredura, está sendo processada por isso. Uns alegam que a Fence agiu assim para aumentar o contrato e conseguir mais dinheiro. Mas a Fence também esteve ligada a outro episódio nebuloso em período eleitoral: em 2002, foi acusada de ser responsável pelo grampo do caso Lunus, que desestabilizou a candidatura de Roseana Sarney ao Planalto. Por que teria a Fence criado a denúncia dos grampos, exatamente na reta final da campanha, em perfeita sintonia com o dossiê Serra?

. Investigação seletiva
Enquanto lançava todos os holofotes sobre a investigação da compra do dossiê, os dados do dossiê em si foram relegados a um segundo plano, como os comprovantes de que 70% dos contratos da Planan foram assinados na administração Serra-Negri, e das ligações mais que comprometedoras de Negri com o empresário Abel Pereira.

. O procurador "trapalhão"
O procurador de Mato Grosso Mário Avelar pediu a prisão dos petistas envolvidos no dossiê, mesmo sabendo que o juiz titular do caso não a autorizara e que a prisão não poderia ser efetuada, por causa da lei eleitoral. Pior: a princípio Avelar mentiu, dizendo que não fora o autor do pedido. Só depois, pressionado pelos fatos, confessou. A coluna de Elio Gaspari hoje, mostra que essa é apenas mais uma das trapalhadas de um procurador que adora câmeras e microfones (leia aqui "O procurador avançou o sinal contra o PT").

. A ausência no debate
Ir ou não ao debate era uma prerrogativa do presidente. Mas deixar toda a imprensa na expectativa, que logo se propagou entre os eleitores, para somente em cima da hora anunciar o não comparecimento, foi um tiro no pé. Mostrou indecisão, vacilação, que logo se transformaram em "fraqueza" e "fuga", na boca dos adversários.

. As fotos do dinheiro
A dois dias das eleições surgiram, finalmente, as fotos que eram o objeto do desejo da oposição: a montanha de dinheiro do dossiê Serra em várias tomadas. Embora sua exibição estivesse proibida, já que o processo corria em segredo de justiça. Em 24 horas o responsável foi identificado: o mesmo delegado da PF que efetuara a prisão dos petistas no hotel. Em conversa com os jornalistas, quando entregou as fotos, ele afirmou que era uma material para "foder o Lula e o PT".
Jornalistas ouvidos pela Carta Maior neste sábado informaram que três jornais, uma emissora de rádio e a TV Globo possuem a gravação da fala do delegado Edmílson Pereira Bruno no momento em que ele entregou aos repórteres o CD com as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal. Na fita, o delegado diz "tá aqui. Agora vamos f... o governo e o PT" e informa à imprensa que, dali, iria forjar um boletim de ocorrência para justificar o suposto "desaparecimento" do CD com as imagens.(Clique para ler mais)

. A "imparcialidade" da mídia
Junte-se a esses fatos todos a "imparcialidade" da cobertura realizada pela mídia, que pode ser vista aqui, com a comparação do Observatório Brasileiro de Mídia. A esse respeito, vale a pena ler também a reportagem de Bia Barbosa, com depoimentos de jornalistas contando os bastidores da cobertura pela mídia.

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