Luis Nassif: A equipe econômica do real comprometeu o futuro do país

Vale a pena ler a entrevista de Luis Nassif a Daniel Bramatti no Terra Magazine. Mais uma vez, o jornalista, escritor, músico e blogueiro aponta sua artilharia para os cabeças-de-planilha, especialmente André Lara Rezende, que ele acusa de ter enriquecido às custas do câmbio, na época em que era um dos formuladores da política econômica do governo FHC.

(...) “eles tomaram um conjunto de medidas técnicas cuja única lógica foi permitir enormes ganhos para quem sabia para onde o câmbio ia caminhar. E o grande vitorioso desse período é o André Lara Rezende, que é um dos formuladores dessa política cambial.”

(...) “O banco Matrix ganhou centenas de milhões de dólares naquele período. O Matrix é do André Lara Resende. E outros bancos de investimento ganharam. Quando você pega o Encilhamento, do Rui Barbosa, você dá o direito de liquidez, de emitir moeda, para um determinado banco. A liquidez em si garante uma certa riqueza, mas, com um ambiente especulativo, essa riqueza pode ser multiplicada. No tempo do Rui Barbosa era a Bolsa de Valores e o mercado de câmbio. No Real era o mercado futuro de câmbio, o mercado de derivativos. No que consistia o jogo: fazer uma aposta na apreciação do real e ficar na ponta vendida do mercado. Só que, para que desse certo, era preciso afastar os grandes bancos desse jogo. Porque se o câmbio começasse a cair muito, os grandes bancos, que tem acesso a linhas de crédito em dólar, poderiam entrar forçando do lado dos comprados. Eles afastaram os grandes bancos definindo uma flutuação de mais 15%, menos 15%, que criava um fator de risco muito grande. Os bancos comerciais não iam entrar porque corriam risco de descasamento entre ativo e passivo. Então ficam no jogo os bancos de investimento - um grupo de bancos de investimento que têm reuniões alguns meses antes do Real - e, do outro lado, um conjunto de empresas que queria comprar dólar para hedge. Essas empresas apostavam que o dólar poderia ir até a R$ 1,08. Com o modelo que eles adotaram, aquela taxa de juros violenta, e o Banco Central garantindo que o dólar não passaria de R$ 1, criou-se todo um ambiente para a apreciação do câmbio. Na primeira tacada ele vai para R$ 0,90 e os vendidos ganham um horror.”

Nassif considera que os “erros” da equipe econômica do Real (“erros” que ele julga propositais – “Eles eram muito preparados e muito competentes para ser um erro teórico um desastre daquelas proporções”) prejudicam o país até hoje:

- Essa conta comprometeu o futuro do país inexoravelmente. A gente não perdeu só dez anos de crescimento, a gente perdeu a maior chance da história.

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