Mino Carta detona Folha, Estadão, O Globo, JB, Civita e Frias

Apenas para lembrar com quem estamos lidando, reproduzo trechos de uma entrevista de Mino Carta a Adriana Souza Silva, da AOL, em 2004, que pode ser lida na íntegra aqui.

AOL - Como os jornais trataram a notícia do Golpe Militar?
Mino Carta - Golpe?! Imagina se alguém iria usar este termo. Os jornais sempre falaram em Revolução. Até hoje, muita gente ainda diz que foi uma "Revolução". O uso indiscriminado desta palavra é uma coisa que me dói. Tenho muito respeito pelas palavras, acho que cada uma tem seu peso, seu valor... Mas, voltando a sua pergunta, a mídia brasileira, desde aquela época, servia ao poder. Digo que o Brasil tem a pior mídia do mundo. Ela é muito ruim, incompetente, priva pela ignorância, pela vulgaridade, pelo distanciamento e pela falta de responsabilidade. A mídia vinha invocando o golpe há muito tempo. Isso é o que mais me lembro dos editoriais de O Globo, do Estadão, do Jornal do Brasil. Nesse tempo, a Folha de São Paulo não tinha o peso que adquiriu depois. Mas esses três jornais soltavam editoriais candentes, implorando a intervenção militar para impedir o caos. Era o caos que estava às portas!

AOL - O senhor diz que a mídia implorava pela intervenção militar. Mas os donos dos jornais citados pelo senhor falam que foram perseguidos.
Carta - Eles falam isso a custo da destruição da memória. Primeiro, destrói-se a memória. Esse é o processo. Em cima da escuridão, inventa-se qualquer coisa, e os leitores engolem tranqüilamente porque o trabalho é eficaz. A destruição da memória é algo que aqui se pratica com extrema habilidade. Assim como o chute no cadáver, a destruição da memória é um dos esportes nativos do Brasil, praticado com extrema competência. Em cima da destruição da memória, alguns jornais inventam que sofreram censura. O Jornal do Brasil nunca foi censurado. A Folha de São Paulo nunca foi censurada.

AOL - Nunca?
Carta - A Folha de São Paulo não só nunca foi censurada, como emprestava a sua C-14 [carro tipo perua, usado para transportar o jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]. Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha, porque o senhor Caldeira [Carlos Caldeira Filho], que era sócio do senhor Frias [Octavio Frias de Oliveira], tinha relações muito íntimas com os militares. E hoje você vê esses anúncios da Folha - o jornal desse menino idiota chamado Otavinho [Otavio Frias Filho] - esses anúncios contam de um jeito que parece que a Folha, nos anos de chumbo, sofreu muito, mas não sofreu nada. Quando houve uma mínima pressão, o sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi a "mínima pressão" porque o sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas possíveis, na sucessão do general Geisel. A Folha estava envolvida com o pior, apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército no governo Geisel]. O Claudio Abramo foi afastado por isso . O jornal O Globo também não foi censurado. Isso é uma piada. Mas o Estado de São Paulo e o Jornal da Tarde, sim, esses dois foram censurados. Mas a censura veio porque havia uma briga interna deles.

AOL - Como assim?
Carta - Se houve um jornal que apoiou o golpe, foi O Estado de São Paulo. O Estado, assim como o Carlos Lacerda, que acabou caçado três anos depois que a "Redentora" se abateu pelo País. Essa gente aspirava a um papel que não tiveram. Então, começaram a brigar entre eles. O jornal Estado tinha uma profunda antipatia pelo Castello Branco porque ele não aceitou as sugestões do jornal na composição de seu primeiro governo. E aí começou essa briga interna que desaguou numa censura que era praticada na redação do jornal. O Estado tinha de publicar versos de Camões nos trechos das reportagens retiradas na redação. E no Jornal da Tarde eles tinham de colocar receitas de bolo nesses espaços.

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