‘Não somos racistas e a Globo faz cobertura isenta’

Tem gente que acha que no Brasil não há racismo, existiria apenas preconceito social e não, racial. O diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, é um desses. Mas ele também acha que o jornalismo da Globo é independente e sempre procura ouvir os dois lados. Embora jornalistas que saíram de lá (Azenha, Rodrigo Vianna) negam que isso tenha ocorrido, ao menos na disputa eleitoral de 2006, em que Kamel teria direcionado a cobertura, em favor dos tucanos. E embora também, no último sábado, o Jornal Nacional tenha feito uma reportagem sobre o vazamento de um material que supostamente estaria no computador do delegado Protógenes, sem ouvir o delegado. O JN ouviu todo mundo que tinha a criticar o vazamento e seu suposto conteúdo. Mas não entrevistou, nem procurou encontrar, o delegado Protógenes.

Hoje, uma leitora no Jornal O Globo, em carta à redação, mostra que Kamel também está errado a respeito da existência ou não de racismo no Brasil.

Violência na loja...
Aconteceu comigo e meus três filhos na loja Aidan Festas e Cia da Rua Senhor dos Passos 191, às 15h de 29/1. Estava lá comprando material escolar e fui arbitrariamente revistada, acusada de roubar uma caixa de lápis de cor. Passei por constrangimento em público, na frente de meus filhos. O segurança queria chamar um "pessoal" e me "levar lá pra dentro", como dizia. Acabou olhando minhas sacolas ali, no meio das pessoas, conferindo a nota fiscal de outra loja e simplesmente me dando as costas, quando percebeu o absurdo engano. Ninguém veio me pedir desculpas, não apareceu gerente, vendedor, ninguém. Meu caçula me perguntava: "Mamãe, ele disse que eu roubei?" Sou          e também médica, saberia reagir, mas muito assustada não agi de forma prática, que seria chamar a polícia.
GILCA SOARES GONZAGA (por e-mail, 29/1), Rio

Apenas para situar o leitor que não é do Rio: a rua Senhor dos Passos citada na carta fica no SAARA, uma área de comércio popular no centro do Rio. Logo, a desculpa do preconceito social não cola.

Cobri com a cor preta a definição que a médica faz de si mesma (negra/branca). Você, leitor astuto, leitora arguta, saberia me dizer qual é?

Outra coisa me chamou a atenção: todas as demais cartas são do mês atual, março, e apenas outras duas são dos dia 15 e 22 de fevereiro. Por que esta, enviada por e-mail (logo, não há a desculpa do Correio) em 29 de janeiro, só foi publicada agora, quase 40 dias depois?

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