No Brasil, Dia da Mentira não é 1º de abril, é 31 de março de 1964

O golpe de Estado no Brasil aconteceu no dia 1º de abril de 1964. Forças militares insufladas pela imprensa golpista derrubaram um governo democrática e constitucionalmente eleito.

Mas, como pegava mal um golpe que se dizia em defesa da democracia acontecer no Dia da Mentira (o que era mais do que uma piada pronta), recuou-se no tempo, aproveitou-se o Dia da Mentira para dizer que o golpe havia acontecido no dia anterior. Por isso, no Brasil, o Dia da Mentira é 31 de março de 1964.

Enquanto durou o golpe, a mentira foi ensinada em todas as escolas do Brasil. Agora, qualquer criancinha sabe que o golpe foi praticado no dia 1º de abril.

Mas os militares de pijama, os que se elegem às custas deles e de suas esposas e filhas, enaltecendo a ditadura, querem continuar com a mentira de que o golpe aconteceu em 31 de março de 1964 e que não foi um golpe, foi...

[Nota conjunta dos clubes Militar, Naval e Aeronáutico. Original aqui, em pdf]

Há quarenta e sete anos, nesta data, respondendo aos reclamos da opinião pública nacional, as Forças Armadas Brasileiras insurgiram-se contra um estado de coisas patrocinado e incentivado pelo Governo, no qual se identificava o inequívoco propósito de estabelecer no País um regime ditatorial comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro.
À baderna, espraiada por todo o território nacional, associavam-se autoridades governamentais entre as quais Comandantes Militares que procuravam conduzir seus subordinados à indisciplina e ao desrespeito aos mínimos padrões da hierarquia.
A história, registrada na imprensa escrita e falada da época, é implacável em relatar os fatos, todos inadmissíveis em um País democraticamente organizado, regido por Leis e entregue a Poderes escolhidos livremente pelo seu povo.
Por maiores que sejam alguns esforços para “criar” uma história diferente da real, os acontecimentos registrados na memória dos cidadãos de bem e transmitidos aos seus sucessores são indeléveis, até porque são mera repetição de acontecimentos similares registrado pela história em outros países.
Relembrá-los, sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação em honra daqueles que, sem visar qualquer benefício em favor próprio, expuseram suas carreiras militares e até mesmo suas próprias vidas em defesa da democracia que hoje desfrutamos.
Os Clubes Militares, parte integrante da reação demandada pelo povo brasileiro em 1964, homenageiam, nesta data os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela Nação Brasileira.

Ou seja, trocando para uma linguagem que eles entendem muito bem, usaram uniformes, armamentos, treinamento, capacitação, salário, auxílio moradia, alimentação, tudo pago pelo estado brasileiro para darem um golpe contra este mesmo estado que lhes pagava salário, uniformes, armamentos, treinamento, capacitação, auxílio moradia e alimentava suas famílias.

Por que não abandonaram as Forças Armadas e foram à luta, buscando auxílio na imprensa que lhes lambia os coturnos, nos latifundiários, nos empresários golpistas, nos Estados Unidos que apoiavam o golpe?

Derrubaram um governo eleito pelo povo, prenderam, torturaram, mataram, tudo isso usando armamentos, treinamento e galardões do Estado, recebendo salários do Estado a que juraram fidelidade.

Cúmulo do cinismo é a nota homenagear "integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela Nação Brasileira".

Mas, qual Nação Brasileira? A representada pelos líderes golpistas, pela imprensa e empresários alinhados aos EUA, que enviaram tropas e armamentos para garantirem que a traição tivesse êxito.

Por que eles se consideram corretos e acusam Lamarca, porque ele teria usado os ensinamentos, o treinamento e as armas que recebeu no Exército contra o golpe? Não foi exatamente o mesmo que fizeram? Por que Lamarca é considerado pelas Forças Armadas o "único traidor da nação" e eles não?

Por isso, a Comissão da Verdade é fundamental. Não podemos deixar que a mentira prevaleça. Nossa história tem que ser revirada, estudada, posta a limpo, como vem acontecendo em todas as demais nações do hemisfério.

Por que só assim "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".

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