No Brasil, todo presidiário é preso político

A visita do presidente Obama ao Brasil (que deve ser mais propriamente chamada de "ocupação do território brasileiro pelas tropas de segurança do presidente americano") fez a alegria da mídia golpista e de governantes sem espinha dorsal.

Governador e prefeito do Rio (um, tucano de berço, o outro, por adoção - embora hoje estejam no PMDB) foram simplesmente barrados pela segurança de Obama em eventos na cidade e no estado em que foram democraticamente eleitos. E se curvaram. Como não têm luz própria, não há novidade nisso.

Mas houve quem protestasse na internet e até um grupo que saiu às ruas e resolveu fazer uma manifestação diante do consulado americano no Rio. No ato, alguém lançou um coquetel molotov na direção do consulado, que atingiu um segurança. 13 pessoas foram presas, sendo um menor e uma senhora de 69 anos.

Leio hoje em O Globo que oito dos prisioneiros tiveram a cabeça raspada (por quê? Onde está o direito à inviolabilidade primeira, a de nosso corpo?). O menor ficou numa unidade de acolhimento de menores. Nenhum teve habeas corpus, o Estado não cuidou de defender os direitos deles, acusados sem prova, pois até hoje não se sabe de onde teria vindo o coquetel molotov.

Segundo informações, o governo pediu ao consulado americano imagens da manifestação, mas recebeu como resposta que essas só seriam liberadas quando o presidente americano (momentaneamente presidente do Estado e da Cidade do Rio de Janeiro) deixasse o país.

Recebi mensagens em apoio aos manifestantes e, em especial, de preocupação com relação ao único menor, pois se encontrava sozinho e temiam por sua integridade física.

Qualquer um que tenha conhecimento sobre a realidade das cadeias, presídios e "centros de acolhimento" de menores infratores sabe que os temores são mais do que justificados.

Quem conhece o instituto Padre Severino, por exemplo, aqui no Rio, tem vontade de apelar para a defesa que Sobral Pinto fez de Prestes na década de 1930, quando o advogado invocou a Lei de Proteção dos Animais.

Lamentavelmente, a grita (mais do que justa) pela libertação do jovem não é feita diariamente, pois os outros que lá estão "acolhidos" são submetidos a tudo o que se temia que pudesse acontecer ao jovem manifestante.

E o perfil dos jovens "acolhidos" é aterrador:

70% dos adolescentes atendidos vêm de famílias com renda familiar mensal de menos de um salário mínimo. Mais 15% de até dois salários.

80% deles têm o ensino fundamental incompleto. 5% deles são analfabetos.

85% são negros (43%) e pardos (42%). Os brancos são 15%.

81% não estudavam, e apenas 20% trabalhavam (17% no mercado informal), quando foram presos. A maioria, subnutrida ou desnutrida.

Nas cadeias e presídios, a situação não é diferente. No entanto, banqueiros, políticos, empresários, médicos, advogados, jornalistas, coronéis cometem crimes e aguardam em liberdade até que seja emitida a sentença definitiva. Os exemplos são vários: Daniel Dantas, Paulo Maluf, Nenê Constantino, o médico taradão de nome árabe, o juiz Lalau, Pimenta Neves (que assassinou fria e covardemente a também jornalista Sandra Gomide), o coronel que ordenou o massacre de Eldorado dos Carajás.

Mas as 13 pessoas da manifestação em frente ao consulado americano foram presas e assim permaneceram até a noite de ontem, apenas porque se manifestavam contrárias à visita do presidente americano, que ainda desrespeitou nosso território ao autorizar o ataque à Líbia enquanto nos visitava.

Por isso, o título desta postagem. No Brasil, todo presidiário é preso político.

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