Jorge Furtado: 'ECAD fica com 2,5% do bruto do ingresso, para entregar aos músicos, mesmo em filmes sem trilha'

O cineasta Jorge Furtado (creio que dispense apresentações, mas se alguém desconhece, clique aqui), em seu blog, denuncia mais um absurdo do ECAD:

Recebi, por e-mail, um texto publicado esta semana em O Globo, tão elogioso e simpático ao ECAD que não sei se é uma notícia ou um anúncio publicitário. O ECAD, para quem não sabe, é o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, entidade privada que, sem fiscalização efetiva da sociedade, arrecada milhões de reais todos os anos nas bilheterias dos cinemas brasileiros, dinheiro saído, como sempre, do bolso do consumidor e dos empresários, donos das salas.

O panegírico de O Globo ao ECAD informa que “a classe artística está rindo para as paredes", graças ao recordes de distribuição (e, é claro, de arrecadação): “Alguns segmentos apresentaram significativo aumento nos valores distribuídos, entre eles: cinema (96%), carnaval (24,3%), festa junina (18,7%) e música ao vivo (11,63%). As últimas decisões do Judiciário, em favor do Ecad, referentes à execução pública de obras musicais nos cinemas, justificam o expressivo aumento nos valores distribuídos neste segmento“.

Faltou o repórter (ou publicitário) explicar como os milhões (pelos meus cálculos, mais de 30) arrecadados pelo ECAD nas bilheterias dos cinemas brasileiros no ano passado chegaram ao seu destino hipotético: o bolso dos músicos autores das trilhas dos filmes em cartaz.

(Este absurdo acontece, para quem ainda não sabe, graças a uma lei imoral vigente no país, que destina 2,5% do bruto das bilheterias ao ECAD que, mesmo que quisesse, não teria como entregar o dinheiro aos músicos, já que não tem a mínima idéia de quem sejam, se é que o filme tem alguma música.)

Por falar nisso, vá ver “Cópia Fiel”, grande filme de Abbas Kiarostami, brilhante interpretação de Juliette Binoche. Ela não está ganhando nada pela exibição do filme nos cinemas brasileiros, já que a lei diz que atores não seriam "autores" do filme (nem o montador, nem o fotógrafo, nem o figurinista), mas os músicos sim. E é por isso que o ECAD fica com 2,5% do bruto do ingresso, para entregar aos músicos, autores da trilha do filme "Cópia Fiel". Músicos que não existem, já que o filme não tem trilha alguma. [leia postagem completa no link]

Com a palavra o ECAD. Para quem vai o dinheiro dos músicos de um filme sem trilha?

Com a palavra, também, os músicos. Quem recebeu grana do ECAD por participação em trilha de filmes?

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