Jornal Nacional de 1º de maio de 1981 informa que havia mais duas bombas no atentado do Riocentro. Confira o vídeo



Na reportagem do Jornal Nacional de 1º de maio de 1981, a repórter Leila Cordeiro não deixa dúvidas: "Os peritos do Departamento Geral de Investigações Especiais desativaram mais duas bombas que estavam dentro do carro".

Reportagem da Veja na época também falava em outra bomba:

Uma outra dúvida junta-se à da explosão: havia ou não outras bombas dentro do Puma? Na noite de quinta-feira, o delegado Petrônio Henrique Romano informou que do carro fora retirada pelo menos uma outra bomba, intata, embora no dia seguinte desmentisse a versão.

A reportagem da Veja (que não é assinada) informa ainda sobre a confusão de informações, já que o capitão ferido não podia falar. O texto chega a ser irônico com a tentativa das autoridades de justificar o injustificável:

Para o bom desenvolvimento das investigações, de qualquer forma, mais relevante real propriedade do Puma é descobrir de que modo a bomba foi parar no interior do veículo destruído. Segundo o secretário da Segurança, não há mistério: "Ela foi colocada lá antes que eles entrassem no carro", acha o general. "Quando o capitão fazia a manobra de marcha à ré, olhando para trás com a cabeça fora da janela, o sargento viu um artefato estranho, pegou-o e ele explodiu.

Foi o capitão quem contou isso? - perguntou-lhe um repórter.
- Não. O capitão, coitadinho, nem pode falar - respondeu Muniz.
- Então, como é que o senhor sabe? - insistiu o repórter.
- Testemunhas viram o capitão manobrando o carro - argumentou Muniz.

O essencial, em tudo o que disse o general, é que o sargento "viu um artefato estranho" dentro do carro duas pessoas podiam achar estranho algum objeto que estivesse no Puma: o sargento, que está morto, e o capitão, que não falou. Sem o depoimento do capitão, qualquer especulação sobre o que ocorreu no interior do carro é puro exercício de imaginação. De certo, sabe-se apenas que a bomba não estava escondida debaixo do assento, que foi afetado pela explosão, ou até mesmo do chassi. O estribo do Puma estava intato e a deformação da porta revelou que o impacto da bomba fora produzido de dentro para fora. Ela explodiu nas mãos do sargento, à altura de seu ventre, dilacerando-o.

Se o sargento tinha o artefato mãos, logicamente surgem três hipóteses. Na primeira, concebida pelo general Muniz, ele não sabia do que se tratava. Na segunda, poderia ter recolhido um objeto que lhe despertasse suspeitas e simplesmente o examinava. Na terceira, o sargento sabia que tinha nas mãos uma bomba, levada com seu conhecimento para o carro. As duas primeiras possibilidades são vistas com restrições por peritos, isso porque é raro que terroristas coloquem bombas dentro de carros. É mais raro ainda que um sargento com experiência militar e antiterrorista, no cumprimento de uma missão, toque num objeto estranho que aparece em seu carro.

Finalmente, é praticamente impossível que um sargento e um capitão, ao encontrarem um objeto suspeito, o levem para dentro de um carro e o examinem enquanto manobram num estacionamento. Um dos princípios elementares para se lidar com explosivos é não removê-los e, sobretudo, só examiná-los em condições de absoluta segurança. A terceira hipótese, segundo a qual a bomba estaria no carro com o conhecimento dos dois militares, também não elimina restrições que os peritos fazem ao que seria a imprudência dos dois. Além disso, se estavam em missão do DOI-CODI, não tinham por que carregar bombas.

A repórter Leila Cordeiro também comentou em seu blog sobre como foi parar no meio do atentado:

Há vinte e sete anos [ela publicou o texto em 2008],no dia 30 de abril de 1981, tive a minha primeira grande experiência como jornalista. Eu trabalhava na Globo, sem horário fixo, já que estava começando. Era meio "pau pra toda obra" como todo iniciante. Ia onde me mandavam, sem hora pra começar e muito menos pra acabar. E foi assim que fui parar no Riocentro, na véspera do dia do trabalhador. Já havia terminado, oficialmente o meu horário como repórter, quando um telefonema da redação me convocou para estar a postos porque uma "kombi" da Globo iria me buscar para cobrir um "acontecimento inesperado" no estacionamento do Riocentro. Era tarde. Mais ou menos dez da noite. Já estava deitada, pronta pra dormir. Pulei rápido da cama e ainda sonolenta vesti-me com a primeira roupa que encontrei, até porque o carro da Globo chegou em seguida ao telefonema. Quando estacionamos no Riocentro senti algo estranho no ar, apesar de não ver nenhuma movimentação. Vimos que havia fumaça num determinado lugar do estacionamento e fomos até lá. Quando chegamos ao local, vimos em primeira mão, um carro esportivo "Puma" destruído com uma pessoa lá dentro também completamente destroçada.Era sangue por todo lado. O cinegrafista e eu não entendemos nada. Não sabíamos sequer porque estávamos ali. Aliás, naquele momento ninguém sabia. Nem a chefia de reportagem da Globo. Mas isso logo se resolveu. Em poucos minutos carros oficiais da polícia , do exército e dos bombeiros chegaram cercando toda a área. Nos empurraram para fora e começaram a perguntar o que tínhamos visto. Logo em seguida chegaram repórteres de vários jornais e cada um correu para o seu lado para apurar os acontecimentos. Naquele dia, eu sabia que estava aprendendo algo mais... Fiquei cobrindo o fato até o dia seguinte quando chegou outra equipe de reportagem para me render. Dali fui direto para a redação da Globo, onde fiquei à disposição dos editores e da direção para escrever o texto e ajudar na edição. Não vi e não posso afirmar, mas soube que representantes do alto escalão do exército estiveram nos andares poderosos do Jardim Botânico para acompanhar as informações. O que posso dizer é que tive que mudar o texto umas três vezes e quase "testemunhar"o que vi no estacionamento.

A versão oficial para o atentado do Riocentro - de que sargento e capitão foram vítimas de "terroristas" - seria ridícula por si só, mas torna-se ainda mais ridícula porque o sargento, no colo de quem a bomba explodiu, era um especialista em bombas.

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