Elio Gaspari se horroriza com cenas de Cabral e Cavendish na Europa. Não pela possível ilegalidade, mas pela 'breguice'

Certas pessoas "do andar de cima" (como diria o Gaspari) são - como diriam pessoas "do andar de baixo" - totalmente "sem noção".

Foram divulgados vídeos e fotos de uma alegre caravana capitaneada pelo governador do Rio Sergio Cabral (se a medida for o cargo mais poderoso) ou pelo dono da Delta Fernando Cavendish (caso a medida seja o bolso mais recheado) em cenas de consumismo explícito em lugares caríssimos e badalados da França e do principado de Mônaco. As imagens caíram como uma bomba, e já há quem peça o impeachment do governador, sem ao menos dar a ele a oportunidade de provar que não houve nada de ilegal ali.

No entanto, o que incomodou o jornalista Elio Gaspari não é a possibilidade de toda a farra ter sido bancada pelo dono da Delta, mas o que Gaspari chama de breguice, deslumbramento do grupo.

"Vergonha, essa é a sensação que resulta dos vídeos das vilegiaturas parisienses do governador Sérgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretários e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta" - escreve Gaspari, no início de sua coluna, publicada hoje em vários jornais, e pode ser lida na íntegra aqui.

"Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novíssimos ricos do Brasil emergente" - escreve no parágrafo final de sua coluna.

Entre o primeiro e o último parágrafos, ele comenta horrorizado a "breguice", o "deslumbramento" do grupo.

O colunista gasta 532 palavras, 3113 caracteres, sem em momento algum se preocupar com o fundamental das cenas: quem pagou por aquela alegria, aqueles vinhos, aquele show do U2, aqueles jantares, aquela farra toda? Essa é a preocupação "do andar de baixo".

Se governador e seus secretários pagaram com dinheiro próprio, pouco importa se são bregas e deslumbrados - cada um se diverte como quer, pode e gosta.

Agora, se quem pagou a farra foi o empresário Cavendish, dono da construtora que tem quase R$ 1 bilhão e meio em contratos com o governo do estado, a coisa muda de figura: deixa de ser uma questão de brega ou chique e passa para o terreno do legal e ilegal. Isso é o que interessa.