Caso Amarildo: Relatório da Polícia mostra por que 96% das investigações são encerradas sem descoberta do criminoso


Pedreiro Amarildo de Souza - morto ou desaparecido


O Estado do Rio é o estado campeão em inquéritos arquivados no Brasil [Fonte]. A divulgação do relatório final da Delegacia de Homicídios sobre o caso do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido (até hoje) desde o dia14 de julho passado, mostra o porquê.

Segundo o relatório, Amarildo teria sido levado por policiais da UPP da Rocinha (há imagens e depoimentos sobre isso) até a sede da unidade. A partir daí, sumiu. Ninguém o viu entrar ou sair de lá, e a informação de que lá esteve foi fornecida pelos policiais, em especial o comandante à época, major da Polícia Militar Edson Santos, homem do famigerado Bope.

Mesmo assim, sem que qualquer dos PMs da UPP tenha confessado o crime, sem que qualquer pessoa tenha presenciado ou ouvido falar do que lá dentro teria acontecido, mesmo assim o relatório diz que Amarildo foi torturado, sofreu choques elétricos e morreu ao ser mandado para o saco (a cabeça do torturado é enfiada em um saco plástico provocando sufocamento), por sofrer de epilepsia. Depois, os PMs sumiram com seu corpo.

Mas, se Amarildo (ou seu corpo) até o momento não foi encontrado, como é possível garantir todas essas informações?

Estou vendo muita gente boa repetir o relatório como uma expressão da verdade. No entanto, é achismo puro. E, se é assim, eu também acho: Para mim (e quem lê meu blog sabe que eu defendo não é de hoje o fim da PM, porque não há crime em que não haja um envolvido, na operação, no planejamento ou no ocultamento - e que Impunidade dos torturadores da ditadura está na raiz dos crimes das PMs brasileiras), para mim, dizia, é quase certo que Amarildo tenha sido morto pelos PMs, mas não vou aplicar o "domínio do fato" tão usado no julgamento da AP 470, porque rabo, orelha, lombo, costela, pé de porco podem indicar que é porco, mas pode ser apenas uma feijoada.

Como o governo Cabral é cheio de piroctenia, de anunciar medidas em casos onde haja clamor da opinião pública, que depois não dão em nada (casas que seriam construídas nas enchentes da Região Serrana, código de ética para alto escalão do governo etc), não estranharia nada que o anúncio da relatório seja apenas isso, nuvem de poeira para que paremos de perguntar "onde está o Amarildo".

Por falar nisso: - Cadê o Amarildo?


Madame Flaubert, de Antonio Mello