Presidenta diz 'nenhum direito a menos', após cortar direitos. Quero coração valente com a auditoria da dívida

Em artigo publicado neste sábado na Folha o ex-porta-voz do governo Lula André Singer denunciou uma contradição evidente entre as intenções do governo e suas ações.

Comentando sobre a medida do governo que retira direitos que afetam em última instância os trabalhadores e entre eles os mais pobres, Singer escreveu:

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Dilma Rousseff encerrou a mensagem ao povo reunido para a sua segunda posse em Brasília com um juramento. "Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás, só mais direitos e só o caminho à frente. Esse é meu compromisso sagrado perante vocês."

No entanto, três dias antes, o governo anunciou que cinco benefícios previdenciários sofreriam cortes de R$ 18 bilhões. A tesoura vai cair sobre o seguro-desemprego, o abono salarial, a pensão por morte, o auxílio-doença e o seguro defeso (voltado para os pescadores). Todos de interesse direto dos pobres. O montante subtraído equivale a cerca de 70% do gasto com o Bolsa Família em 2014.
(...)
O argumento apresentado para compatibilizar a gritante contradição é que não se trata de retirar direitos e sim corrigir "distorções".

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Se o mau uso de benefícios (as tais distorções) foi o critério para as alterações, por que não se mexeu nas pensões das filhas "solteiras", casadíssimas no mundo real mas não no papel?

Quantas empregadas domésticas se casam com seus patrões idosos Brasil afora (um dos "golpes" citados pelos defensores das medidas) para receberem pensão e quantas filhas de funcionários públicos civis e militares morrem "virgens" no papel, recebendo pensões de dezenas de salários mínimos, e na verdade são mães e até avós, com filhos de mais de um casamento, mas solteiras no papel?

Ah, mas essas são de classe média, alta.

Por que cortar benefícios em vez de identificar e punir os fraudadores? Por que os justos vão pagar pelos pecadores?

Tem mais. Dizem que vão economizar R$ 18 bilhões, mas cada ponto na Selic aumenta a dívida (não auditada) em R$ 10 bilhões. E só após vitória de Dilma a taxa aumentou 0,75, ou R$ 7,5 bilhões.

Finalmente, por que se faz qualquer coisa menos uma auditoria nesta maldita dívida?