O William Bonner que conheci, num evento do Banco Nacional que dirigi

O ano era 1994. Como acontecia todos os anos, desde que a nova direção assumiu o Banco Nacional, foi lançada uma nova campanha interna de incentivo.

O tema era "Campeão Nacional", e tinha como símbolo nada mais nada menos que Ayrton Senna, o supercampeão que era patrocinado pelo banco.

No entanto, a campanha começou do pior e inesperado jeito possível. Um evento via rede, transmitido desde a TV E do Rio de Janeiro, daria o pontapé inicial na campanha, e estava marcado para a segunda-feira posterior à corrida de Ímola, na Itália, que Ayrton contava vencer, mas que, infelizmente para todos os que o tínhamos como ídolo, foi palco de sua última e trágica corrida.

Sobre como foi a transmissão da campanha na segunda-feira conto outro dia, em que vou falar do milagre que um gênio da comunicação conseguiu fazer. O nome desse gênio é Osmar Santos. Mas esta postagem é sobre William Bonner, que ainda nem entrou nela.

Vamos então dar um salto na história, do início para o fim da campanha de incentivo, do início para o final do ano, e assim introduzir Bonner.

Mesmo com o gravíssimo problema inicial - a morte de Senna, símbolo da campanha - o mundo girou, a Lusitana rodou, e chegamos ao final da campanha, quando se faz o feedback necessário e se prepara a equipe para o outro ano.

O Nacional me chamou para criar um evento que seria repicado por todo o Brasil. Deveria obrigatoriamente ter uma dupla de apresentadores, um homem e uma mulher.

Bolei a apresentação, fiz os textos, tudo aprovado, eles determinaram que eu deveria estar presente em uma e que dirigiria as outras via telefone.

A apresentação que me foi escalada aconteceria em São Paulo, numa boate de que não me recordo o nome. A dupla de apresentadores era: William Bonner e Maitê Proença.

Mas se você acha que vida de escritor é uma moleza, vou acrescentar um detalhe a esta história que vai mostrar o William Bonner que conheci.

Um dia antes do evento, que, como disse, se espalhava pelo Brasil inteiro, com mais de um evento simultâneo em cidades como Rio, SP e Belo Horizonte, me foi encomendado um vídeo "poético" sobre Ayrton. A produtora responsável faria uma cobertura de imagens sobre meu texto.

Mandei o texto. Aprovado. A produtora virou a noite cobrindo com imagens.

No dia da festa, a orientação era no sentido de que os homens dos casais de apresentadores lessem o texto.

Aí, voltamos a William Bonner. Quando eu o informei do texto, ele me disse delicadamente que não iria fazer. Aquilo não estava no contrato, e ele ainda estava muito ligado emocionalmente à morte de Senna, cujo enterro narrou ao vivo.

Era um pepino que eu não tinha como resolver. E que não aconteceu em nenhum dos mais de 20 locais em que o evento se realizava simultaneamente.

Eu me dirigi ao representante do endomarketing do banco que estava presente e expus o problema a ele. Ele me perguntou o que eu achava. Disse a verdade: pela minha experiência, tudo poderia ser resolvido por um plus no cachê.

Resumindo: William Bonner leu o texto que disse que não leria.

Juro que não sei o que o representante do Nacional e Bonner conversaram. O que me interessava era entregar o produto de meu trabalho. E tanto William Bonner como Maitê Proença foram perfeitos.