SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DO RIO DIZ QUE CRIME NA LAGOA É 'INADMISSÍVEL'. POR QUE SÓ NA LAGOA, BELTRAME?

Anteontem, um médico foi barbaramente assassinado por dois ladrões, que lhe roubaram pertences e bicicleta num dos cartões postais do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Seria apenas mais um assassinato no país recordista mundial desse tipo de crime, não fosse pela reação indignada do Secretário de Segurança José Beltrame.

Não há um único dia sem um crime de morte no Rio de Janeiro. Mas, para Beltrame, parece que há crimes e Crimes!, com C maiúsculo e exclamação.

Repare nas declarações dele retiradas de O Dia.

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"É mais do que lamentável. É inadmissível o que aconteceu ontem na Lagoa, um lugar querido por todos os cariocas. Um lugar frequentado pela população do Rio e estrangeira. Por todos os turistas que vêm ao Rio. Cenas dessa natureza não podem se repetir. É um cartão-postal e não podemos assumir de maneira alguma que essas ações aconteçam, muito embora a gente entenda as dificuldades que as polícias têm de trabalhar", declarou o secretário.
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Beltrame lembrou ainda a mudança no 23º BPM (Leblon) — responsável pelo policiamento da área —: o tenente-coronel Joseli Cândido da Silva passa a ser o comandante a partir desta quarta-feira. "O coronel Cândido assume com a função de reposicionar todo policiamento, com a cavalaria e bicicletas. Além disso, se reúne hoje com a Guarda Municipal, no sentido de procurar ações conjuntas. Um lugar como a Lagoa não pode de maneira nenhuma ser alvo desse tipo de atitude porque é um local que todos nós frequentamos", frisou o secretário, que acrescentou: "O atual comando assume com a missão de proteção total da Lagoa".
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Peralá, secretário. Inadmissível é sua indignação seletiva. Quer dizer que por ser um cartão postal, um local frequentado por cariocas e turistas, "um local que todos nós frequentamos", o crime na Lagoa é mais crime do que na Maré, do que o tiro de fuzil de um PM na cabeça de uma criança no Alemão, do que os assassinatos diários na Baixada e nas chamadas periferias?

A vida de um médico na Lagoa vale mais do que a de uma criança no Alemão?

Aparentemente, sim. Porque o médico ainda nem foi enterrado (meus sentimentos à família) e um dos suspeitos já está preso, o que ainda não aconteceu com o criminoso (um PM, segundo a mãe do menino) que fuzilou o menino Eduardo de Jesus Ferreira , de 10 anos, há quase dois meses, no dia 2 de abril, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

Isso, sim, é inadmissível, secretário. Não é à toa que vemos a polícia agindo de um jeito na Zona Sul e áreas turísticas e mandando bala no "resto" do Rio.