Adriano Imperador está perdendo o corpo-a-corpo para seu pior adversário, o álcool


Ele tem apenas 35 anos. Ainda poderia estar na ativa, fazendo aquilo que melhor sabe fazer, jogar futebol, fazer gol, ser ídolo da torcida.

No entanto, muitos jovens já não sabem mais nem quem é, ou foi, Adriano, o Imperador, craque que alegrou a torcida brasileira, as do times mais populares do Brasil, Flamengo e Corinthians, e a do Inter de Milão, que lhe deu o apelido que o tornou famoso no mundo inteiro, de Adriano, o Imperador, na terra dos Imperadores.

Hoje, Adriano pode ser encontrado nas festas da favela da Vila Cruzeiro onde nasceu, encravada no Complexo do Alemão, mesmo local onde foi cruelmente assassinado o jornalista Tim Lopes.

Cercado por amigos e traficantes, Adriano bebe e se sente, como disse o cantor Jamelão a respeito do príncipe Charles na Mangueira, como pinto no lixo. Ali nasceu. Ali se sente à vontade, entre os seus. Ali, é o único lugar onde ainda é o Imperador.

Adriano seguiu o destino que escolheu. Está fazendo exatamente o que quer. Trocou seu talento como goleador pelo direito de viver na favela. Cercado de namoradas, amigos. Festas, farras, churrascos em lajes. Nem quando era um dos maiores atacantes do mundo fazia distinção entre os parceiros que pertencem ao crime dos evangélicos, dos trabalhadores. Trata todos da mesma maneira.

Seu apelido é Didico.

Não tem compromisso com nada. A não ser desfrutar o que resta do que conseguiu ganhar em uma carreira ceifada pela metade. Ela acabou exatamente no dia 4 de agosto de 2004. Nove dias depois da maior conquista de sua carreira. A Copa América do Peru.

Eu estava cobrindo para o Jornal da Tarde e sei o que Almir Leite Ribeiro significava para o jovem atacante. "Esse título vai para o meu pai. Ele é o meu grande amigo desta vida, meu parceiro, sem ele não seria nada", me disse após a vitória diante da favorita Argentina. O título só veio porque Adriano conseguiu empatar a partida no último minuto do segundo tempo e levar a decisão aos pênaltis.

"O Adriano fará história no futebol brasileiro.

Ele é forte, canhoto, talentoso.

É atacante para as próximas três Copas do Mundo."

A previsão era do empolgado técnico campeão, Parreira. [Fonte: Blog do Carlos Rímoli, onde você pode ler a reportagem completa]

Adriano continua bebendo e cercado por amigos. pelo menos enquanto tiver dinheiro. Depois que o dinheiro acaba, geralmente acabam também os amigos e aí vai ficar apenas o seu marcador implacável, o álcool.

E o Imperador vai ter seu derradeiro corpo-a-corpo com ele. Porque tudo com álcool se limpa, se cura. Tudo o que não seja álcool.