'Supremacista' meuzovo! A palavra é 'racista'


"Supremacistas" é como a mídia corporativa mundial vem chamando os racistas de Charlotesville, Virgínia, Estados Unidos, que saíram às ruas numa manifestação violenta pregando o ódio e a supremacia branca.

Como no Brasil somos racistas (ao contrário do que diz o diretor de Jornalismo da Rede Globo Ali Kamel em seu livro), a palavra virou mamão no mel e é a atualização para a farsa ditabranda com que a Folha quis brindar a ditadura civil-militar que golpeou, torturou e matou o Brasil por 21 anos.

Em sua coluna de hoje na Folha, o jornalista Janio de Freitas vai direto ao ponto:

Criada na universidade e injetada no jornalismo, a palavra "supremacistas" é filhote da atenuação de aparências. Supremacismo é, porém, termo aplicável a muitas condições e atividades. Na cabeça brasileira, até ao futebol, a ser visto forçadamente como o superior no mundo, mesmo quando a inferioridade é humilhante.
O sentimento e a ação antinegros nos Estados Unidos são mais do que supremacistas. Seu nome é racismo. Continua sendo e será enquanto exista. Palavra sem máscara. Nome específico, direto, preciso. Consagrado por seu caráter repulsivo, pelo tempo, por quem o porta e por quem o sofre.
Não há razão para acobertar o racismo, prática e nome, com um subterfúgio que só presta serviço aos racistas, de repente maquiados pela dubiedade de supremacistas. Se supremacismo retrata ódios brancos aos negros, alguém seria capaz de dizer que Hitler e o nazismo eram apenas supremacistas por seu ódio aos judeus?
A palavra supremacistas tem, para os racistas e o governo dos Estados Unidos, a mesma finalidade que militares, alguns integrantes do Supremo Tribunal Federal e parte dos meios de comunicação extraíram da palavra "excessos": nome (e justificativa) da tortura e dos assassinatos políticos nos quartéis.
Em estádios, hoje, torcedores que ofendem jogadores negros são reconhecidos, com unanimidade, como racistas. Porque racismo é racismo onde quer que se manifeste.
Supremacismo, além do mais, é palavra antijornalística –pela imprecisão, quando a precisão é possível; pela utilidade deformadora; e por sua hipocrisia.


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