Polícia do ex-presidente da UNE José Serra invade a Unesp e retira alunos à força

A notícia os jornalões deram. Falam que a invasão foi às duas da madrugada, de terça para quarta. 92 estudantes foram detidos, interrogados e libertados. Entrevistas, apenas com o reitor, o secretário de segurança e o comandante da tropa. Todos dizem que ocorreu tudo bem. Divergência apenas quanto ao número de policiais empregados: 250, 180 ou 130, sendo que 30 da tropa de Choque.

Mas quem lê somente os jornalões fica sabendo apenas o que eles querem que se saiba. Por exemplo, uma olhada na Tribuna Impressa, de Araraquara, mostra um outro lado da questão. São depoimentos de professores, inconformados com a invasão da polícia.

A intervenção judicial e policial para frear o movimento dos estudantes que ocupavam a sala da diretoria e vice diretoria da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp de Araraquara foi condenada por docentes e representantes de categorias de classe, ouvidos ontem pela Tribuna.
A atitude foi considerada lamentável por muitos deles, que também acreditam que a postura adotada pela Reitoria da Universidade e seguida à risca pela diretoria da unidade não foi a melhor solução para o impasse envolvendo estudantes e a Faculdade, por se tratar de um movimento político e com reivindicações voltadas à melhoria da educação.
(...)Na avaliação, da docente Maria Orlanda Penassi, do departamento de educação, não houve violência física contra os alunos, mas houve violência moral, simbólica, política e de liberdade de expressão. “Não havia necessidade de todo o aparato policial. Foi um ato violento em si. Não ter a presença da polícia na universidade foi algo que conquistamos ao longo dos anos”.
O professor Milton Lahuerta, docente do curso de Ciências Sociais, acredita que este tipo de decisão fere a democracia. “Não concordo com a atitude de entrada da polícia no Campus”, diz, ao considerar o ato como uma medida truculenta. Para o professor, a solução para ocupação deveria ser encontrada por meio do diálogo.
João Bosco Faria, presidente da Associação de Docentes da Unesp (Adunesp), considerou o desencadeamento da desocupação como “lamentável”. De acordo com ele, a diretoria poderia ter pensado outras formas para resolver o impasse entre os estudantes, que na avaliação de Faria, tem um pauta de reivindicação justa. “Poderia ter sido negociado de outra forma”, diz.
(...)A ação policial no Campus ativou a memória da repressão da ditadura. Muitos universitários se manifestavam com dizeres como ‘abaixo a ditadura’ e ‘abaixo a repressão’, entoados quando os estudantes aguardavam o procedimento policial dentro dos ônibus.
A educadora Maria Orlanda concorda com a alusão. “A ditadura chega pelos fundos e precisamos reagir contra manifestações de força. Se não reagirmos, deixaremos as portas abertas para que tudo seja resolvido à base da força. Temo pela comunidade acadêmica como um todo”, alerta. “Não vivenciei essa época, mas militei quando era estudante na década de 80”, conta Lahuerta.
A professora de Filosofia aposentada, Regina Célia Bicalho Prates e Silva, diz que a invasão “me deixou horrorizada, escandalizada”. Segundo ela, “não poderia imaginar que isso pudesse acontecer, não aconteceu em momentos muito piores de nossa história, por isso, fico chocada”

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