Geisel autorizou assassinato de Jango, acusa ex-agente uruguaio

Reportagem de Simone Iglesias, da Agência Folha, em Porto Alegre, publicada ontem (aqui, para assinantes) revela declaração de um ex-agente do serviço de inteligência do uruguai, na época da ditadura militar, que afirma que Jango não morreu de ataque cardíaco, como se acreditava, mas assassinado por envenenamento.

O ex-agente Mario Neira Barreiro disse que a ordem para o assassinato foi dada pelo delegado do Dops de São Paulo Sérgio Paranhos Fleury e que este obtivera a autorização para o crime diretamente do presidente Ernesto Geisel.

“Faça e não me diga mais nada sobre Goulart” – teria dito Geisel a Fleury.

Em outro trecho da reportagem (assinantes podem acessar a íntegra aqui), Barreiro contou à repórter como o ex-presidente Jango foi assassinado:

FOLHA - Como Jango foi morto?
BARREIRO
- Foi morto como resultado de uma troca proposital de medicamentos. Ele tomava Isordil, Adelfan e Nifodin, que eram para o coração. Havia um médico-legista que se chamava Carlos Milles. Ele era médico e capitão do serviço secreto. O primeiro ingrediente químico veio da CIA e foi testado com cachorros e doentes terminais. O doutor deu os remédios e eles morreram. Ele desidratava os compostos, tinha cloreto de potássio. Não posso dizer a fórmula química, porque não sei. Ele colocava dentro de um comprimido.
FOLHA - Como as cápsulas eram colocadas nos remédios de Jango?
BARREIRO
- Ele era desorganizado. Abria um frasco, tomava alguns, na fazenda abria outro. Tinha sete, oito frascos abertos. E colocávamos [referência ao grupo que monitorava Jango] um remédio em cada frasco. Colocamos os comprimidos em vários lugares: no escritório na fazenda, no porta-luvas do carro e no Hotel Liberty.

Ainda segundo o ex-agente toda a operação teria sido acompanhada e financiada pela CIA.

BARREIRO - A CIA pagou fortunas para saber o que Jango falava e foi responsável por muita coisa, mas não quero falar sobre isso porque tenho medo.

A confissão do ex-agente uruguaio, além de confirmar suspeitas que sempre correram sobre as mortes de ex-presidentes durante a ditadura (há ainda o caso JK), mostra mais uma vez o papel desempenhado pelos Estados Unidos, através da CIA e seus agentes, em golpes, assassinatos e campanhas golpistas contra governos que não partilham dos interesses e ideais do governo americano.

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