Folha finge criticar Uribe para atacar Chávez

Uribe imita Chávez é o título de um editorial da Folha hoje. Curioso, até para criticar o Uribe eles têm que colocar o Chávez no meio. O tema é o movimento pela segunda reeleição de Uribe, que está sendo trabalhada na Assembléia colombiana por partidários de don Varito, como Uribe era chamado pelo megatraficante Pablo Escobar (leia aqui Pablo Escobar sobre Uribe: 'Se não fosse por esse rapaz bendito, ainda estaria trazendo pasta de cocaína em porta-malas de carros').

O editorial critica a possibilidade desse terceiro mandato, mas – mas é isso, tem sempre um mas, um entretanto, um porém... Leia:

Deve-se reconhecer que o colombiano, ao contrário do venezuelano, tem pelo menos uma realização que transcende ao populismo a apresentar: sua política de segurança é um sucesso. Não apenas logrou reduzir substancialmente a violência que assolava os grandes centros urbanos como ainda obteve um impressionante avanço militar sobre as Farc, a guerrilha que há mais de 40 anos inferniza a vida da população.

Quer dizer: se Uribe tem pelo menos uma realização significa que Chávez não tem nenhuma. Deveriam ler Hugo Chávez: O que nunca lhe informaram sobre ele.

Mais adiante, o jornalão paulista (que vai sentir o tamanho do pepino, se for confirmada a compra do Estadão pelas Organizações Globo) repete uma informação que correu o país no mês passado, e que é absolutamente furada:

Não é por outro motivo que Uribe é o presidente mais popular das Américas, com 84% de aprovação.

Essa pesquisa foi publicada inicialmente no México, e correu o mundo, via agências de notícias. A mídia corporativa deitou e rolou, mas não fez o dever de casa, que seria ir até o site de quem divulgou a pesquisa.

Se fossem, iriam descobrir que o Consulta Mitofsky misturou alhos com bugalhos, números de 2008 com outros de 2007 etc. Por exemplo, os tais 84% de Uribe são de uma pesquisa de março de 2007 - há mais de um ano, portanto. (Quem tiver curiosidade de fazer o que a Folha não fez, é só baixar este arquivo .pdf, onde está a tal pesquisa.)

Agora, o mais divertido a Folha guardou para o final. Leia este trecho:

Cerca de 60 congressistas de partidos situacionistas são investigados por envolvimento com os "paras", as milícias de extrema direita cujas atividades ilícitas incluem chacinas e narcotráfico. Três dezenas de políticos estão presos, incluindo um primo e colaborador de Uribe. Para piorar, o presidente é agora acusado de ter comprado votos para aprovar a emenda constitucional que lhe possibilitou o segundo mandato.

Sabe como a Folha encabeça esse emaranhado de denúncias, que mostram que está subindo à tona o verdadeiro caráter de Uribe e seu governo? Com o seguinte eufemismo:

No front político, entretanto, sua gestão é vulnerável.

Vulnerável ficou o meu Botafogo com esse incompetente Geninho. Três dezenas de partidários presos, 60 investigados, compra de reeleição: isso é só estar "vulnerável"? A posição de Uribe é insustentável. Seu governo vaza água e até o El Tiempo (principal jornal do país, e da família do vice de don Varito) começa, aqui e ali, a soltar informações contra o chefe. Aliás, como a Folha está fazendo em São Paulo, com o editorial de hoje que critica Serra e Alckmin.

É que em certas horas fica insustentável não dizer a verdade.

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