Para jornalões, seqüestro de Santo André vai ser bom para oito famílias

Em janeiro deste ano postei aqui uma denúncia: No Jornal Nacional, cratera do metrô de São Paulo pariu um bebê. Leia a postagem ao final e veja se o mesmo não está sendo feito agora com o caso da menina Eloá, que foi seqüestrada e assassinada em Santo André, na semana passada.

Eis as manchetes de hoje dos três jornalões sobre o caso:

O Globo: Família doa órgãos de Eloá
Estadão: Órgãos de Eloá vão para oito pessoas
Folha: Família de Eloá aceita doar os órgãos para transplante

Logo teremos reportagens sobre os oito felizardos que tiveram suas vidas salvas pelos órgãos da menina. E é isso o que vai restar do episódio, uma coisa positiva. O seqüestro não terá terminado com a morte da menina, mas com a alegria da vida de oito pessoas e suas famílias. Nada da incompetência policial que deixou a jovem Nayara retornar às mãos do seqüestrador, após ter sido libertada uma primeira vez. Ainda sem se saber se o seqüestrador atirou nas meninas antes ou depois da explosão da bomba lançada pela polícia.

Pergunto: Seria assim se o governador de São Paulo não fosse José Serra?

Agora, repito a postagem que fiz sobre a cratera do metrô. Veja como o roteiro é igual.

Ontem publiquei uma postagem aqui mostrando como o JN critica o governo, mesmo quando ele baixa medidas que vão ao encontro das necessidades da população.

Hoje, para mostrar que isso não é uma coisa fortuita, mas fruto de uma estratégia política, vou comentar uma outra matéria, da mesma edição. Só que essa mostra como o JN trata o outro lado – o governo tucano de José Serra.

Naquele sábado a cratera do metrô de São Paulo completou um ano. Uma cratera que vitimou sete pessoas. Até hoje nem o laudo com as causas do acidente foi apresentado à população. E como o JN tratou o assunto?

Começou com uma homenagem, na cabeça, lida por Renato Machado:

As vítimas do desabamento de um trecho das obras do metrô de São Paulo, foram homenageadas hoje - quando o acidente completou um ano. [A vírgula entre o sujeito e o verbo está na página do JN mesmo]

Depois, algumas informações:

O acesso ao local do acidente continua interditado. Estão interditados 21 imóveis. O laudo técnico sobre as causas e os possíveis culpados não foi concluído. Deveria ter ficado pronto em outubro do ano passado, mas foi adiado para março.

Alguma sonora? Alguma entrevista com o governador ou responsável pelo desastre? Alguma cobrança? Por que até hoje nem o laudo ficou pronto? Por que a área continua interditada? Nada.

Em seguida vem o final:

Entre os veículos soterrados estava um microônibus que passava pelo local.

Nele estava o marido de Thays Gomes, o cobrador do ônibus. Grávida na época do acidente, ela esperava Cauã, hoje com quase um ano.

Revolta de Thays? Reclamação contra o governo? Nada disso, segundo a reportagem. Sobre imagens de uma alegre e inocente criança brincando, o repórter prossegue, antes da sonora de Thays:

Ela diz que guarda boas lembranças do marido apesar de tanto sofrimento.

“Uma coisa boa foi o meu filho, o nosso filho”, diz Thays.

Pois é, da cratera do metrô ficou uma coisa boa... O nosso filho: dela, do marido morto, da cratera do metrô e do Jornal Nacional.

(Confira a matéria completa do Jornal Nacional sobre o aniversário da cratera do metrô aqui.)

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