Paz em Gaza, só se for a dos cemitérios

Pela entrevista do presidente de Israel e Prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres, publicada hoje em O Globo, fica a impressão de que Israel só vê uma solução para Gaza: o fim do Hamas. Mas, como o Hamas, segundo Peres, está espalhado por toda a faixa, o fim do grupo só virá com a destruição completa de Gaza.

Veja trechos da entrevista [os grifos são meus]:

- O que o senhor diria a quem afirma que Israel está cometendo um massacre em Gaza?
PERES: Acredito que estejam fazendo declarações sem conhecer os fatos. O que diriam se eu contasse que o Hamas está usando crianças como escudos humanos para esconder armas? Têm uma resposta para isso? O que diriam se eu contasse que o Hamas esconde armas dentro de mesquitas? O que diriam se eu contasse que terroristas estão se disfarçando dentro de hospitais? Não sabem dos fatos. Alguém é capaz de mudar o comportamento do Hamas? Quem são eles? Professores de universidades? Se podem fazer com que parem, garanto: nenhum soldado israelense pisará mais em Gaza. Mas ninguém conseguiria isso.

- O que aconteceu na escola da ONU? Israel pediu para que a população deixasse suas casas. Alguns se refugiaram na escola...
PERES: Alertamos à ONU que o Hamas usa suas instalações para lançar mísseis e atacar Israel. Pedimos à ONU que investigasse o tema. Eles não respeitam nada. Nem leis, nem normas, nem a vida humana. Também sou contra a guerra, contra os disparos e a favor da paz. Mas se deixarmos que continuem disparando, não haverá paz.

- Mas, que culpa têm crianças e palestinos adultos inocentes?
PERES: Quem disse que são culpados? Digo que é um crime que eles escondam granadas em creches. Insisto que o crime maior é esconder morteiros em escolas. Nunca ninguém fez isso no passado.

- (...) A trégua em Gaza está mais próxima? Quais são as condições para atingi-la?
PERES: A fronteira de Rafah está fechada a armas. Não permitiremos o
contrabando de armas pelos túneis
e exigimos que parem com os disparos e com o terror. Só queremos ser um povo normal.

- (...) Como Prêmio Nobel da Paz e visionário do Oriente Médio, é frustrante
para o senhor constatar que Israel vive sua oitava guerra?
PERES: Eu sei que é mais difícil chegar à paz do que fazer a guerra. Ainda que eu tenha recebido um Prêmio Nobel, sei que a paz não é uma festa, há muitas dificuldades, interesses enfrentamentos. Tudo o que posso dizer é que nunca renunciamos a nosso desejo de paz e nossa vontade de pagar um preço por isso.

Crianças, mesquitas, hospitais, prédios da ONU, creches, túneis, e ainda ambulâncias, navios com mantimentos, tudo é atacado, segundo Peres, porque há algo do Hamas ali. Portanto, o "preço que Israel está disposto a pagar pela paz" é o de levar a Gaza a paz dos cemitérios.

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