Folha publica artigo de professor que defende ditabranda

A palavra ditabranda estrategicamente não é citada, mas o artigo publicado hoje na Folha (aqui, para assinantes) pelo professor de História da UFSCar Marco Antonio Villa defende o mesmo conceito do infame editorial de 17 de fevereiro da Folha, e que será motivo de ato de protesto no próximo sábado, dia 7, às 10h, em frente à sede do jornal em SP.

Villa, como aquele editorial, defende que nossa ditadura, quando comparada com as dos vizinhos sul-americanos, assim como nossos bosques, tem mais vida, e nossa vida em teu seio mais amores.

Villa faz um elogio descarado de nossa ditadura (não resisto à piada pronta: será que o nome completo dele é Villa Militar?). Enumera tudo o que considera que houve de bom por aqui: Embrafilme, Funarte, centenas de estatais criadas por Geisel... Como se as ditaduras vizinhas passassem os dias apenas matando, torturando e comendo churrasco.

O contorcionismo verbal de Villa às vezes beira o ridículo, como neste trecho:

No Brasil, naquele período, circularam jornais independentes - da imprensa alternativa - com críticas ao regime (evidentemente, não deve ser esquecida a ação nefasta da censura contra esses periódicos).

Como se os jornais independentes fossem criação da ditadura... Além do mais, a censura, Villa, era praticada aqui no Brasil por quem: Pinochet, Videla, Stroessner? Ou pela ditadura brasileira? E as explosões em bancas de jornais? E as costumeiras prisões de jornalistas?

Mais adiante, Villa, da defesa da ditadura, parte para o ataque:

É curioso o processo de alguns intelectuais de tentarem representar o papel de justiceiros do regime militar. Acaba sendo uma ópera-bufa. Estranhamente, omitiram-se quando colegas foram aposentados compulsoriamente pelo AI-5, como Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Emilia Viotti da Costa, entre outros; ou quando colegas foram presos e condenados pela "Justiça Militar", como Caio Prado Júnior. Muitos fizeram carreira acadêmica aproveitando-se desse vazio e "resistiram" silenciosamente.

Villa insinua, insidiosamente, que alguns intelectuais que hoje se manifestam, àquela época se calaram, e lucraram com isso. Chega a ironizá-los com as aspas em “resistiram”, pois o teriam feito silenciosamente. Por quem foram silenciados, Villa? Pela ditadura militar brasileira. Por que hoje falam? Porque não vivemos mais uma ditadura.

Vamos ao final do artigo:

A história do regime militar ainda está presa numa armadilha. De um lado, pelos seus adversários. Alguns auferem altos dividendos por meio de generosas aposentadorias e necessitam reforçar o caráter retrógrado e repressivo do regime, como meio de justificar as benesses. De outro, por civis (estes, esquecidos nas polêmicas e que alçaram altos voos com a redemocratização) e militares que participaram da repressão e que necessitam ampliar a ação opositora - especialmente dos grupos de luta armada - como justificativa às graves violações dos direitos humanos.

Ou seja, quem luta para que se preserve a memória do que foi a ditadura militar brasileira, para que ela nunca mais se repita; quem luta para que a ditadura seja chamada pelo nome preciso de ditadura e por nenhum outro, só o faz, segundo Vila, por interesse próprio: ou porque quer continuar auferindo “altos dividendos por meio de generosas aposentadorias”, ou porque quer continuar com sua bela carreira - caso dos civis que “alçaram altos voos com a redemocratização” (o presidente Lula? A ministra Dilma?), ou porque quer dormir com a consciência tranquila - caso dos militares que torturaram e mataram.

Por isso é importante a presença de todos os que puderem ir ao ato do próximo dia 7, em frente à Folha. Há uma tentativa de revisão histórica no Brasil, um edulcoramento da ditadura, na esperança, talvez, de torná-la, a princípio, palatável, para que, mais adiante, ela possa parecer até uma “boa ideia” a ser aplicada novamente no Brasil.

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