No jornalismo da Globo, agressão a usuários do Metrô-Rio termina num trem fresquiiiinho...em dezembro de 2012

No final da tarde de terça-feira, seguranças do Metrô-Rio agrediram cidadãos e provocaram um verdadeiro tumulto na estação Botafogo.

O RJTV da Rede Globo (cujo jornalismo é dirigido por Ali Kamel) mostrou reportagem com a denúncia. Confira e veja a truculência do Metrô, que vive com trens superlotados, deficiência no ar condicionado, superlotação e agora ainda partiu para agredir os usuários.



Só que a Globo não seria a Globo se ficasse apenas na denúncia. Como ela defende o governo Sérgio Cabral no Rio (críticas só ao governo federal) como o dos tucanos em São Paulo, ela juntou a denúncia a essa notícia aqui, que fala da modernidade que chegará com os trens que virão da China (no ano que vem, embora devessem ter chegado em agosto do ano passado). Assistam, depois eu volto:



Não é fofo? O repórter chega a falar que o ar condicionado é "fresquiiinho... Só que não há trem algum pronto, como informa de passagem a matéria. O que vemos é um "protótipo". Eles deveriam chegar no ano passado e só chegarão (se chegarem) no final de 2012.

O que a reportagem não mostra é que no meio do ano passado (quando os novos trens estariam chegando) a diretoria do Metrô passou a prometer os trens para o meio deste ano de 2011 (confira a informação nessa reportagem (ou propaganda?) de O Globo, com o sugestivo título "Metrô do Rio terá a 'BMW' dos trens em 2011").

A reportagem não informa também que um dos escritórios de advogados que defendem o Metrô-Rio tem como sócia majoritária a esposa do governador Cabral, Adriana Ancelmo Cabral, um contrato que foi assinado em 8 de janeiro de 2007, exatamente uma semana depois de Sergio Cabral assumir o governo do Rio pela primeira vez. Coincidência, não?

Isso é jornalismo ou propaganda disfarçada, merchandising?

Quando o locutor diz que a equipe de reportagem da Globo viajou para a China às custas da empresa Metrô-Rio a resposta fica óbvia.

No site, as matérias estão separadas, embora tenham ido ao ar como se fossem uma só, que começasse com as agressões e terminasse na chegada dos novos trens ("fresquiiinhos"). Tive o trabalho de juntar c com b (se é que me entendem) e subir para o Youtube para vocês verem que há continuidade entre uma e outra e que elas foram ao ar juntiiiinhas por opção editorial. Confiram, é curtiiiinho... 10 segundos.




Isso me lembrou uma outra reportagem do "jornalismo independente" da Globo, que postei aqui em 14 de janeiro de 2008:

No Jornal Nacional, cratera do metrô de São Paulo pariu um bebê

Ontem publiquei uma postagem aqui mostrando como o JN critica o governo, mesmo quando ele baixa medidas que vão ao encontro das necessidades da população.

Hoje, para mostrar que isso não é uma coisa fortuita, mas fruto de uma estratégia política, vou comentar uma outra matéria, da mesma edição. Só que essa mostra como o JN trata o outro lado – o governo tucano de José Serra.

Naquele sábado a cratera do metrô de São Paulo completou um ano. Uma cratera que vitimou sete pessoas. Até hoje nem o laudo com as causas do acidente foi apresentado à população. E como o JN tratou o assunto?

Começou com uma homenagem, na cabeça, lida por Renato Machado:

As vítimas do desabamento de um trecho das obras do metrô de São Paulo, foram homenageadas hoje - quando o acidente completou um ano. [A vírgula entre o sujeito e o verbo está na página do JN mesmo]

Depois, algumas informações:

O acesso ao local do acidente continua interditado. Estão interditados 21 imóveis. O laudo técnico sobre as causas e os possíveis culpados não foi concluído. Deveria ter ficado pronto em outubro do ano passado, mas foi adiado para março.

Alguma sonora? Alguma entrevista com o governador ou responsável pelo desastre? Alguma cobrança? Por que até hoje nem o laudo ficou pronto? Por que a área continua interditada? Nada.

Em seguida vem o final:


Entre os veículos soterrados estava um microônibus que passava pelo local.
Nele estava o marido de Thays Gomes, o cobrador do ônibus. Grávida na época do acidente, ela esperava Cauã, hoje com quase um ano.



Revolta de Thays? Reclamação contra o governo? Nada disso, segundo a reportagem. Sobre imagens de uma alegre e inocente criança brincando, o repórter prossegue, antes da sonora de Thays:


Ela diz que guarda boas lembranças do marido apesar de tanto sofrimento.

“Uma coisa boa foi o meu filho, o nosso filho”, diz Thays.


Pois é, da cratera do metrô ficou uma coisa boa... O "nosso filho": dela, do marido morto, da cratera do metrô e do Jornal Nacional.

Esse é o "jornalismo independente" da TV Globo.

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