UPP fez traficantes migrarem para municípios vizinhos, afirma juiz na CPI das Armas da Alerj

Reportagem do jornal O Dia:

Em depoimento à CPI das Armas da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o juiz titular da Vara Criminal de Itaboraí, município da região Metropolitana do Rio, Marcelo Vilas, afirmou ter provas de que traficantes de comunidades tomadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) migraram para municípios vizinhos. "Tenho certeza e tenho dados sobre isso", disse. Segundo ele, um traficante que atuava no Complexo do Alemão e era um dos homens fortes de Fabiano Atanázio da Silva, o FB, um dos chefes do Comando Vermelho, controla o tráfico de comunidades em Itaboraí.

Villa disse ser favorável à continuidade do programa de Polícias Pacificadoras no Rio e que a migração é um reflexo a ser combatido. "Acho que é um esforço da Secretaria de Segurança Pública. Um projeto sem igual de pacificar e ocupar territorialmente essa área. Mas esbarra na limitação de recursos do Estado. Tem comunidades onde os traficantes vão migrar para tentar continuar desenvolvendo suas atividades", disse.

PMs armeiros forneciam munições ao Comando Vermelho

O depoimento prestado pelo juiz revelou à CPI uma investigação que evidencia a fragilidade do controle do Estado sobre as munições fabricadas no Brasil. Em 2009, Villa condenou o traficante Ricardo Paiol, um dos encarregados de fornecer armas para o Comando Vermelho. As investigações apontaram que dois comparsas de Paiol eram policiais militares. Um trabalhava no 35º Batalhão, de Itaboraí, e o outro no depósito central de armas da PM de Niterói.

Um deles, o cabo Ricardo Galdino tinha autorização do Exército para colecionar armamento e para a prática esportiva. Com a autorização, Galdino encomendava insumo para recarregar munição em sua própria casa. O insumo era enviado pelo correio, via Sedex. O juiz afirmou que as investigações não conseguiram comprovar se houve desvio do armamento da corporação, apesar de os dois PMs exercerem funções no controle do armamento interno.

Para o deputado e presidente da CPI, Marcelo Freixo (Psol), esse foi um dos depoimentos mais contundentes prestados à investigação: "é um juiz que conduziu uma investigação onde apareceram dois policiais militares armeiros envolvidos com o tráfico de armas. Isso mostra que investigar a fragilidade do poder público sobre o seu armamento e sobre o armamento geral que circula na sociedade. O problema da fronteira existe, mas não adianta insistirmos esse mito que acaba encobrindo outras investigações importantes como a fragilidade da PM, da Polícia Civil e do próprio Exército".

Para o juiz, o controle sobre a munição é tão importante quanto o controle ao armamento. "A arma pode ser adquirida lá fora. Mas é preciso a munição estocada em grande quantidade para a manutenção do domínio territorial de traficantes. Acredito que o controle à munição seja uma forma inteligente de se combater o tráfico de armas", afirmou. [Reportagem completa aqui]

O depoimento do juiz veio confirmar informação que publiquei outro dia aqui no blog: Rio, insegurança pública, 'segurança' privada.

.