Merval, o Imortal, Pereira escreve necrológio de Ricardo Teixeira, o 'angustiado, isolado, subdimensionado'

Merval Pereira é um jornalista isento. Pelo menos quando se trata de seus amigos ou de personagens e causas simpáticos a quem lhe paga o salário. Quando não é assim, ele não hesita em especular, em usar palavras duras: "corrupto", "ditador".

Se o presidente da CBF fosse Lula e ele houvesse renunciado agora para escapar dos processos que lhe caem às costas, Merval Pereira usaria de toda a sua imortalidade para execrar o presidente mais popular da História do Brasil.

Mas o presidente da CBF (agora já ex) Ricardo Teixeira, que renunciou hoje, é simpático às Organizações Globo, de onde Merval, o Imortal isento, recebe seu suado salário (provavelmente como pessoa jurídica, driblando as leis trabalhistas - mas isso é outra história, como diria o barman de Irma la Douce).

Então, como não foi Lula, mas Ricardo Teixeira, leia o que escreveu agora há pouco Merval em seu blog Imortal:

As angústias de Ricardo Teixeira

As acusações de corrupção no Brasil e no exterior certamente pesaram na decisão de Ricardo Teixeira de se demitir da presidência da CBF.

Pelo menos na Fifa a solução é imediata: a saída do dirigente brasileiro suspende investigações que porventura estejam tramitando.No Brasil, ele espera que seu desaparecimento da cena pública atue como sempre, fazendo com que o esqueçam.

Mas, recentemente, ele se revelou a amigos angustiado mesmo foi com o fim de seus sonhos. A realização da Copa do Mundo no Brasil era o sonho de Ricardo Teixeira para chegar à Presidência da Fifa, o reconhecimento público de seu trabalho era uma ambição que alimentava.

Achava que, finalmente, iriam dar valor ao que fizera nesses 23 anos à frente da CBF. Mas o sonho tranformou-se em pesadelo.

Na nota de renúncia, ele abordou o tema dizendo que suas vitórias foram subvalorizadas e os erros superdimensionados.

Não tinha mais interlocução com a Presidente Dilma Rousseff, e nem com o Presidente da Fifa Joseph Blatter. E via a cada dia os trabalhos para a realização da Copa mais e mais atrasados.

Temia que a culpa final recaísse sobre ele, tinha medo de se transformar no bode expiatório dos dois lados, governo e Fifa. Como Presidente do Comitê Organizador, é claro que tinha culpa, mas sentia-se a cada dia mais isolado, sem capacidade de reação.

Quase fiquei com pena de Ricardo Teixeira, um milionário que trocou a carreira de jogador de futebol pela de cartola para não ofuscar Pelé, pois jogava muito mais que aquele "negrinho de poucas posses". Um abnegado que teve que disputar a presidência da CBF no voto, viajando pelo país - e não sendo nomeado pelo sogro, João Havelange, outro injustiçado que renunciou ao COL (como Teixeira também o fez agora) para fugir do processo por corrupção de milhões de dólares.

Merval, o Imortal, Pereira sabe muito bem (como sabemos eu e você que me lê) por quais motivos Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF e ao COL. E também sabe muito bem o que o levou a escrever o necrológio em que pinta o ex-capo como um homem isolado, angustiado, que não teve reconhecimento público de seu trabalho.

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