Chico proíbe Tv Cultura de continuar a usar sua música no programa Roda Viva




Acabou o amor. Se é que algum dia existiu, além daquele lá atrás quando Chico Buarque autorizou (de boca, como ele veio descobrir agora) Fernando Faro a utilizar sua canção Roda Viva no programa com o mesmo nome.

Não devia mesmo ser fácil para o compositor, apoiador da esquerda, ver sua canção libertária, perseguida pela ditadura militar, ser utilizada agora, quando o programa assumiu o viés reacionário dos últimos tempos.

A gota d'água (para citar outra canção - e peça) de Chico deve ter sido o programa que teve como "entrevistado" (se é que se pode usar a palavra em relação ao convescote) o golpista Fora Temer.

Uma sessão constrangedora, de puxa-saquismo explícito, de donos de veículos com pires nas mãos, que ficou resumida na pergunta do jornalista Ricardo Noblat, que, em meio à crise e aos problemas que enfrenta o país, quis saber de Temer como ele conheceu a primeira-dama. Mais um e pouco poderiam perguntar qual a cueca da preferência, se samba-canção, sunguinha ou fio dental...

Para não pegar mal, a TV Cultura está correndo para divulgar que está trocando toda a abertura do programa, inclusive a canção, como se fosse uma escolha dela e não uma necessidade pela retirada da autorização pelo compositor.

Viva Chico e Roda Viva!

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração