Prêmio Nobel de Economia critica Trump, mas parece estar falando de Bolsonaro. Confira

Bolsonaro e Trump

Paul Krugman critica em Trump comportamentos iguais aos de Bolsonaro


Bolsonaro já disse ailoveiú pra Trump, já ficou esperando uma hora por um simples aperto de mão do presidente dos Estados Unidos; seu filho, Eduardo, já botou na cabeça um boné defendendo a reeleição de Trump e quer ser embaixador do Brasil nos EUA para ficar mais pertinho dele (e dos interesses dele e dos EUA).

O mimetismo dos Bolsonaro com Trump é de tal ordem que se você que me lê trocar a palavra Trump por Bolsonaro no texto a seguir, do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, publicado no The New York Times e traduzido aqui por Paulo Migliacci na Folha, vai ver a incrível semelhança entre os dois - ao menos nos defeitos. Confira.
A coisa surpreendente sobre a crise constitucional que enfrentamos no momento é que tenha demorado tanto tempo a acontecer. Era óbvio desde o começo que o presidente dos Estados Unidos [do Brasil] seria um autocrata que não aceitaria limites ao seu poder e consideraria críticas uma forma de traição, e que ele contaria com o apoio de um partido que há muitos anos vem negando a legitimidade da oposição.

Algo como o momento atual era inevitável. O que ainda resta decidir é o resultado. E se a democracia sobreviver –o que de forma alguma é certeza–, isso acontecerá em boa medida por uma dose inesperada de boa sorte: a deficiência mental de Donald Trump. [Bolsonaro]

Não quero dizer que Trump
[Bolsonaro] é estúpido; um homem estúpido não teria conseguido fraudar tantas pessoas por tantos anos. E nem quero dizer que ele é louco, ainda que seus discursos e tuítes ("minha grande e incomparável sabedoria"; os curdos não tomaram parte nos combates do Dia-D) continuem a parecer cada vez mais lunáticos.

Ele é preguiçoso, no entanto, completamente desprovido de curiosidade e inseguro demais para ouvir conselhos ou admitir um erro que seja. E se levarmos em conta que Trump 
[Bolsonaro] é aquilo que acusa muitas outras de serem –um inimigo do povo–, deveríamos ser gratos por suas falhas.

O item noticioso que me levou a pensar sobre isso foi, estranhamente, a mais recente revisão orçamentária do Serviço Orçamentário do Congresso, que projeta um déficit fiscal de quase US$ 1 trilhão (R$ 4,1 trilhões) para 2019 –cerca de US$ 300 bilhões acima do déficit que Trump herdou.

Pouco importa a demonstração clara de que o frenesi dos republicanos da era Obama quanto aos déficits era uma completa hipocrisia. O ponto mais importante é que US$ 300 bilhões é muito dinheiro, e deveria ter bastado para comprar muitos ganhos políticos para Trump.

Afinal, outros nacionalistas brancos que estão tentando fazer a mesma coisa que Trump
[Bolsonaro]está tentando fazer –subverter o Estado de Direito e transformar suas nações de democracias formais em autocracias monopartidárias, para todos os fins práticos– solidificaram seu domínio do poder ao cumprir pelo menos algumas de suas promessas populistas. Na Polônia, por exemplo, o Partido Justiça e Paz aumentou os gastos sociais e agora está prometendo um grande aumento no salário mínimo.

No entanto, a política econômica de Trump
[Bolsonaro] vem sendo a guerra de classes tradicional republicana das classes altas contra as classes baixas. Parte alguma dos US$ 300 bilhões foi convertida em benefícios sociais ou mesmo no plano de infraestrutura que ele promete continuamente mas nunca apresenta. Em lugar disso, o dinheiro foi usado para reduzir os impostos das empresas e dos ricos, e isso pouco fez para estimular o investimento.

Ao mesmo tempo, Trump
[Bolsonaro] levou adiante sua obsessão pessoal com tarifas a despeito de crescentes indicações de que isso está prejudicando o crescimento. A economia deveria ser o grande ponto de venda para ele, em termos políticos. Em lugar disso, as pesquisas sobre seus índices de aprovação na política econômica mal saem do vermelho, em média, e devem piorar à medida que as tarifas sobre bens de consumo se fizerem sentir e a economia se desacelerar.

Mas as oportunidades econômicas desperdiçadas por Trump são evidentemente secundárias, a esta altura, diante do impeachment que corre contra ele.

Algumas semanas atrás, parecia que Trump escaparia de acusações quanto ao seu conluio com a Rússia para subverter a eleição de 2016, e por obstrução da Justiça; o relatório Mueller foi basicamente um fiasco, em parte porque a história era complicada, em parte porque Mueller hesitou.

Mas Trump conseguiu deixar as coisas claras a ponto de qualquer pessoa entender. Primeiro exigiu que regimes estrangeiros obtenham informações negativas sobre rivais na política nacional, não só em telefonemas mas até diante das câmeras. Agora, está envolvido em um esforço cru e óbvio para bloquear o inquérito de impeachment da Câmara, e isso por si só constitui um delito passível de impeachment.

Por que ele está dando tanta munição aos defensores da democracia? Em parte ele parece ter acreditado nas próprias bobagens –ele parece levar a sério as bizarras teorias de conspiração que seus partidários alardeiam para justificar suas ações. E também é evidente que lhe falta qualquer autocontrole. Mesmo que considere que qualquer esforço para responsabilizá-lo por seus atos constitui uma forma de traição, ele deveria ter evitado fazer essa acusação em público.

Por isso, as ações de Trump explicam por que uma votação que autorize seu impeachment, algo que parecia altamente improvável semanas atrás, agora se tornou praticamente inevitável. Continua improvável que o Senado o condene, mas isso deixou de ser tão impossível quanto no passado.

O ponto mais importante é que, se Trump
[Bolsonaro] fosse mais astuto e tivesse mais autocontrole, talvez fosse impossível deter a marcha para a autocracia. Ele tem o apoio de um partido cujos representantes eleitos não mostraram qualquer sinal de escrúpulos democráticos. Conta para todos os efeitos com uma mídia estatal, na forma da Fox News e do restante do império Murdoch de mídia. Já conseguiu corromper agências governamentais importantes, entre as quais o Departamento da Justiça.

De fato, essas vantagens são tão grandes que um ataque à democracia ainda pode sair vitorioso. O único motivo para que isso não aconteça, repito, são as deficiências de Trump
[Bolsonaro].
É muito revelador que o partido republicano atual continue a apoiar solidamente um homem evidentemente inapto, de forma até grotesca, para seu posto (ainda que alguns membros da base republicana agora apoiem o inquérito de impeachment). Mas aqueles de nós que desejam a sobrevivência dos Estados Unidos [Brasil] tais como os conhecemos deveriam estar gratos pela imaturidade e incompetência de Trump
[Bolsonaro]. Suas falhas de caráter são a única coisa que nos dá uma chance de vencer.


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